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Ordm; livro - entre a Terra e o céu 7




 

9. Prece e ação - Amaro pediu à segunda esposa que confiasse nele, mas Zulmira aludiu à imagem do menino Júlio, que não lhe saía da lembrança. "Sinto que o remorso me persegue", disse-lhe a mulher. "Não fiz tudo o que eu devia para salvar o filhinho que me confiaste!..." Amaro rogou-lhe esquecesse o passado, asseverando que todos pertencemos a Deus e que a Divina Vontade vive conosco, em toda parte. Era imprescindível, pois, lutar, procurando a vitória. Odila inspirava o esposo, que, envolvendo com carinho a enferma, prosseguiu: "Não olvides que pertencemos aos compromissos morais que assumimos... O carinho do meu caçula significava muitíssimo para o meu coração, contudo, não pode ser mais importante que o nosso amor!... Refaze-te! Vivamos nossa vida!... Temos Evelina e a nossa felicidade!..." Zulmira sentou-se, de olhos reanimados e diferentes. Odila, de fisionomia satisfeita, dirigiu-se então ao quarto da filha, onde, colocando a destra sobre a fronte da menina, que dormia, solicitou-lhe a presença. Findos alguns instantes, Evelina, em Espírito, apareceu e, vendo a mãezinha, correu a abraçá-la. A jovem estava radiante e maravilhada, e Odila pediu-lhe que ela ajudasse seu pai e sua madrasta, para salvar aquele lar. "Deus não nos reúne -- disse a genitora -- para a indiferença ou para o egoísmo e sim para o serviço salutar de uns pelos outros!..." Evelina disse que estava orando por todos, ao que sua mãe, incentivando-a à prece, declarou: "Não olvides a prece, querida, mas a súplica que não age pode ser uma flor sem perfume. Peçamos o socorro do Senhor, algo realizando para contribuir em seu apostolado divino... Comecemos por refundir a confiança em tua nova mãe. Faze-te melhor para ela... Procura-a, desdobra-te no trabalho de preservação da tranqüilidade doméstica, a fim de que Zulmira se veja segura de teu afeto e de teu entendimento filial..." E ajuntou: "Uma rosa sobre a mesa, uma vassoura diligente, uma peça de roupa cuidadosamente guardada, uma escova no lugar que lhe compete, são serviços de Jesus, no santuário da família, com os quais devemos valorizar o pensamento religioso... Não te detenhas tão somente nas boas intenções. Movimenta-te no trabalho encorajador da harmonia. Sê o anjo do serviço em nossa casinha singela! Zulmira necessita de uma irmã, de uma filha!... Aproveita a oportunidade e faze o melhor!..." (Cap. XXV, págs. 156 e 157)

 

10. Efeito da ação espiritual - Evelina, com indefinível contentamento a iluminar-lhe o rosto, enlaçou a mãezinha com extremada ternura e beijou-a, muitas vezes. Logo após, acordou deslumbrada. A jovem teve a impressão de estar descendo do céu, e a imagem da mãe, carinhosa e bela, ocupava-lhe toda a mente. Sob a inspiração de Odila, ela passou pela copa e chegou junto da madrasta, oferecendo-lhe pequena bandeja com a leve refeição da manhã. Amaro e Zulmira receberam-na, encantados. "Meu Deus -- exclamou a doente, sorrindo --, tenho a impressão de que um anjo penetrou nossa casa. Tudo hoje amanheceu contentamento e bom ânimo!..." Evelina reuniu os dois cônjuges num só abraço e contou: "Sonhei com Mãezinha! Via-a tão nítida, como se ainda estivesse conosco. Afirmou que necessitamos de amor e recomendou seja eu para Zulmira a filha que ela não tem!... Ah! que felicidade!... Mamãe ouviu minhas preces!" Amaro ouviu, feliz, a informação, guardando consigo, contudo, as recordações da noite, e Zulmira abafou as próprias reminiscências, para aderir com toda a alma ao otimismo daquele abençoado momento de paz e renovação: "Sem dúvida alguma, Odila deve ser o nosso gênio protetor... E' muita alegria nesta manhã para que a nossa ventura seja simples sonho ou mera coincidência!" Ao ouvir tal testemunho, tocada em suas fibras mais recônditas, Odila começou a chorar entre o reconhecimento e o regozijo. Clara abraçou-a e disse-lhe, humilde: "Chora, minha filha! Chora de júbilo! Em verdade, quando o amor sublime penetra em nosso coração, a luz do Senhor passa a reger os passos de nossa vida". (Cap. XXV, págs. 158 e 159)

 

11. No Lar da Bênção - Com a alegria no lar de Amaro, Odila estava evidentemente feliz. Perguntando a Clara se havia agido corretamente, a instrutora conchegou-a de encontro ao coração e disse, terna: "Venceste, valorosa; compreendeste o santo dever do amor. Abençoarás para sempre este maravilhoso dia de renúncia e doação de ti mesma". Odila, que chorava copiosamente, informou que seu pranto não era de sofrimento: "Sinto-me agora leve e feliz... como não compreendia eu assim, antes?!..." Clara elucidou então: "Sim, perdeste peso espiritual, habilitando-te à elevação de nível. Nossas paixões inferiores imantam-nos à Terra, como o visco prende o pássaro a distância das alturas..." Em seguida, afagando-a, acentuou: "Vamos! Deste agora o amor puro e, por isso, o amor puro não te faltará. De ora em diante, o teu coração permanecerá em serviço dos anjos guardiães de nossos destinos, que velam por nós abnegadamente, esperando-nos na Vida Mais Alta. Cedendo o carinho de teu companheiro à outra mulher, de cuja colaboração necessita ele para redimir-se, conquistaste nele novo patrimônio de afetividade, e, aproximando a filhinha daquela a quem devemos querer como irmã, adquiriste o merecimento indispensável para recuperar o filhinho, cujo futuro poderás orientar... Hoje mesmo, estarás ao lado de teu Júlio..." Odila, transfigurada, estampou no semblante a luz da felicidade que lhe fluía do mundo interior. Seria a primeira vez, depois da morte física, que ela iria ao Lar da Bênção, onde estava seu filho Júlio. Na viagem, Odila se admirou com os surpreendentes jogos da luz e, ao chegar ao Lar, extasiou-se na contemplação das centenas de crianças que brincavam festivamente. (Cap. XXVI, págs. 160 e 161)

 

12. O encontro com Júlio - Acompanhando Clarêncio, o grupo atingiu a residência de Blandina, que os acolheu com a gentileza habitual. Atraída pelo grande berço, Odila precipitou-se sobre o menino enfermo, bradando, alarmada: "Meu filho! Júlio! Meu filho!..." A Sabedoria Universal colocou, sem dúvida, imperscrutáveis segredos no carinho materno. Existe algo de milagroso e divino nos laços que unem mães e filhos que, por enquanto, não podemos apreender. Júlio, ao ver a mãe, transformou-se, de súbito. Indefinível expressão de felicidade cobriu-lhe o semblante: "Mãe! Mãe!...", gritou, respondendo. Os dois se abraçaram e Odila retirou-o do leito, beijando-o enternecida. Depois, quando a emotividade asserenou, ela sentou-se ao lado dos benfeitores espirituais, com o filho ao colo, que lhe contou como doía a garganta, mostrando-lhe a glote extensamente ferida. Odila, sem compreender bem a posição orgânica do filho, nada falou; contudo, Clara considerou: "Esperamos localizar nossa amiga no Parque, por algum tempo, e, certo, sentirá prazer em encarregar-se do pequenino". Blandina apoiou a idéia e disse que a Escola das Mães apresentava vastas disponibilidades; não lhe faltariam os recursos... Odila disse não compreender aquela úlcera tão grande em Júlio, sem o corpo de carne... Clara pediu a Clarêncio que elucidasse o caso, e o Ministro ponderou, cauteloso: "Sim, nossa irmã, como é natural, encontrará pela frente variados problemas ligados ao caminho de elevação que lhe é próprio. Achamo-nos todos infinitamente longe do Céu que fantasiávamos na Terra e cada qual de nós detém consigo deficiências que será preciso superar. O passado reflete-se no presente". E, sorrindo, acrescentou: "Nosso destino é assim como o rio. Por mais diferenciado se encontre, à distância da nascente que lhe dá origem, está sempre ligado a ela pela corrente em ação contínua..." Em resposta a Clarêncio, Odila disse que procuraria compreender, para poder amparar o filho com todos os cuidados indispensáveis ao seu bem-estar. "Sinto que a felicidade -- acrescentou ela -- pode ser conquistada no mundo a que fomos trazidos pela renovação... Trabalharei quanto estiver ao meu alcance para ver Júlio integralmente refeito". (Cap. XXVI, págs. 162 a 164)

 

13. A vida é uma escola - Odila estava realmente transformada, e seu sonho era esforçar-se para poder receber, em boas condições, os entes queridos que reencontraria, um dia, na vida espiritual. Blandina e Mariana pediram-lhe que ficasse junto delas, até situar-se, em definitivo, no educandário a que se destinava, e Odila aceitou, reconhecida. O grupo de Clarêncio despediu-se e retornou ao seu domicílio espiritual. André estava, porém, intrigado. Por que o Ministro não esclareceu Odila acerca do passado de Júlio? Seria aconselhável deixá-la entregue a informações deficientes? Clarêncio, após ouvir as ponderações de André, explicou: "Ò primeira vista, seria efetivamente esse o caminho a seguir, entretanto as recordações do pretérito não devem ser totalmente despertadas, para que ansiedades inúteis não nos dilacerem o presente. A verdade para a alma é como o pão para o corpo que não pode exorbitar da quota necessária a cada dia. Toda precipitação gera desastres". O Ministro esclareceu que a própria Odila, sentindo-se plenamente integrada no carinho materno, assumiria a responsabilidade do trabalho alusivo à reencarnação do menino, encontrando aí abençoado serviço de fraternidade, ao mesmo tempo que se reconheceria mais responsável. "Se movêssemos as decisões -- acentuou Clarêncio --, Odila observar-se-ia anulada em sua capacidade de agir, ao passo que, confiando a ela as deliberações que o caso reclama, adquirirá novo interesse para auxiliar Zulmira, de vez que a segunda esposa de Amaro substituí-la-á na condição de mãe, oferecendo novo corpo ao filhinho..." E aduziu: "A vida é uma escola e cada criatura, dentro dela, deve dar a própria lição. Esperemos agora alguns dias. Interessada em socorrer o filhinho doente, a própria Odila virá até nós, lembrando para ele a felicidade da volta à Terra". (Cap. XXVI, págs. 164 e 165)

 

14. Odila busca auxílio para Júlio - Quatro semanas se passaram e, como Clarêncio previu, Odila foi procurá-lo no Templo do Socorro. Ela vinha triste e preocupada. Júlio prosseguia apresentando na fenda glótica a mesma ferida. Seus cuidados, os recursos medicamentosos e os passes magnéticos não surtiam qualquer efeito. Visitando com Blandina inúmeras crianças infelizes, portadoras de problemas talvez mais dolorosos, não supunha a existência de tantas enfermidades depois da morte. Tentando obter a ajuda de amigos, para esclarecer-se convenientemente, todos lhe repetiam que os compromissos morais adquiridos conscientemente na carne somente na carne deveriam ser resolvidos, e que, por isso mesmo, a reencarnação para Júlio era o único caminho. O corpo físico funcionaria como abafador da moléstia da alma, sanando-a, pouco a pouco... Odila estava amargurada. Que fizera o menino no pretérito para receber semelhante punição? Clarêncio, profundo conhecedor do sofrimento humano, falou-lhe como sacerdote: "Odila, o passado agora não é o remédio próprio. Atendamos à hora que passa. Temos Júlio extremamente necessitado à nossa frente e o alívio dele é o nosso objetivo mais imediato". A mãezinha resignada concordou num gesto silencioso. "Também creio -- prosseguiu o Ministro -- que a reencarnação do pequeno é urgente medida se desejamos observá-lo no caminho da própria recuperação." Odila pediu-lhe então sua ajuda, e Clarêncio informou-lhe que Júlio não era uma criatura comum, não sendo justo, por isso, renascer no mundo a esmo, como planta inculta germinando à toa. Propôs-lhe, assim, analisar o quadro de suas relações afetivas, dizendo: "Tens grande plantio de amizades puras na Terra? Em questões de auxílio, não podemos perder os nossos sentimentos de vista. Tanto para entrar no reino do espírito, como para entrar no reino da carne, em melhores condições, não podemos prescindir da cooperação de amigos sinceros que nos conheçam e nos amem". A mulher entendeu a observação do Ministro e revelou que, sempre ocupada com a casa e a família, nunca pôde efetivamente cultivar tantas afeições, como seria de desejar. Quem sabe o Amaro as teria? (Cap. XXVII, págs. 166 a 168)

 

15. Processo reencarnatório - Clarêncio aproveitou a citação do nome de Amaro e assentiu, prontamente. Amaro seria para o menino um admirável companheiro, entretanto não poderiam dispensar no cometimento o concurso de Zulmira, no trabalho maternal. Para isso, era imprescindível Odila fazer-se mais devotada, mais amiga... "Um esforço pede outro. Sem o lubrificante da cooperação, a máquina da vida não funciona", aditou Clarêncio. Os olhos de Odila faiscaram de esperança, e ela prometeu ajudar: "A princípio lutei contra Zulmira, desejando ser amada de meu esposo, agora devo lutar em favor de nossa irmã por amar o meu filho. Muito erramos, disputando o amor dos outros, entretanto, corrigimo-nos e acertamos o passo, quando procuramos amar..." Na seqüência, Clarêncio sugeriu-lhe mantivesse visitas afetuosas ao antigo lar, consolidando-lhe a harmonia, para que Júlio ali encontrasse um clima de confiança. Quando Odila se despediu, André formulou para o Ministro diversas perguntas que lhe fustigavam a cabeça. A reencarnação como lei exigia o concurso da amizade? Os desafetos da vida influem em nosso futuro? O trabalho reencarnatório não seria uma imposição natural? Clarêncio respondeu, satisfeito: "A lei é sempre a lei. Cabe-nos tão somente respeitá-la e cumpri-la. Nossa atitude, porém, pode favorecer-lhe ou contrariar-lhe o curso, em favor ou em prejuízo de nós mesmos. O renascimento na carne funciona em condições idênticas para todos, contudo, à medida que se nos desenvolvem o conhecimento e o amor, conseguimos colaborar em todos os serviços do aperfeiçoamento moral em nossas recapitulações. A alma, como a planta, pode ressurgir em qualquer trato de solo, mas não seria justo relegar sementes selecionadas a terrenos incultos. A reencarnação, por si, tanto quanto ocorre nos reinos inferiores à evolução humana, obedece a princípios embriogênicos automáticos, com bases na sintonia magnética; contudo, em se tratando de criaturas com alguns passos à frente da multidão comum, é possível ajustar providências que favoreçam a execução da tarefa a cumprir". E ajuntou: "Nesses casos, a plantação de simpatia é fator decisivo na obtenção dos recursos de que necessitamos... Quem cultiva a amizade somente na família consangüínea, dificilmente encontra meios para desempenhar certas missões fora dela. Quanto mais extenso o nosso raio de trabalho e de amor, mais ampla se faz a colaboração alheia em nosso benefício". (Cap. XXVII, pp. 168 e 169)

 

16. Zulmira aceita ser mãe - Hilário aludiu então à questão da antipatia. Seria esta prejudicial nos processos reencarnatórios? Clarêncio elucidou: "Toda antipatia conservada é perda de tempo, em muitas ocasiões acrescida de lamentáveis compromissos. O espinheiro da aversão exige longos trabalhos de reajuste. Em várias circunstâncias, para curar as chagas de um desafeto, gastamos muitos anos, perdendo o contacto com admiráveis companheiros de nossa jornada espiritual para a Grande Luz". Os dias transcorreram e soube-se, então, que Odila passou a dispensar envolvente carinho a Amaro e sua esposa doente, que, à custa de muito esforço dela, restabeleceu afinal a saúde orgânica. Preparando o retorno do filho amado, Odila associou-se, de coração, à tarefa de restaurar a harmonia conjugal e o contentamento de viver. Foi assim que, passadas algumas semanas, o grupo recebeu de irmã Clara um convite para uma visita ao Lar da Bênção. No dia aprazado, estavam ali, a postos, Blandina, Mariana, Clarêncio, Hilário e André, palestrando animadamente em aposentos reservados na Escola das Mães, em torno do berço de Júlio. Decorrido algum tempo, Clara, Odila e Zulmira chegaram, envolvidas em luminosa onda de paz. Enlaçada pelos braços das duas entidades, a ex-obsidiada parecia feliz, apesar da impressão de medo e insegurança que lhe transparecia do olhar. Ao ver o menino, indagou: "Será Júlio, meu Deus?" -- "E' verdadeiramente Júlio! -- confirmou Odila -- para ele te rogamos socorro! nosso pequeno precisa renascer, Zulmira! poderás auxiliá-lo, oferecendo-lhe o regaço de mãe?" Tomada por lágrimas de alegria, Zulmira inclinou-se sobre o menino e, afagando-o com intraduzível ternura, falou em voz quase sufocada pela emoção: "Estou pronta! Devo a Júlio cuidados que lhe neguei... Louvo reconhecidamente a Deus por esta graça! Sinto que assim nunca mais serei assaltada pelo remorso de não haver feito por ele quanto me competia!... Será meu filho, sim!... Conchegá-lo-ei de encontro ao peito! O' Senhor, ampara-me!..." Zulmira, abraçada ao menino, pareceu, desde então, incapaz de qualquer sintonia com os demais Espíritos que ali se encontravam. Clarêncio sugeriu então que ela fosse restituída ao lar terrestre, para evitar maiores emoções, ficando marcada para o dia seguinte a reencarnação daquele que, no passado, fora amante de Lina Flores e por ela se suicidara! (Cap. XXVII, págs. 169 a 171)

6a R E U N I Ã O

 

(Fonte: Capítulos XXVIII a XXXII.)

 

1. Júlio volta ao lar terreno - No dia seguinte, Clarêncio informou, de forma concisa, como seria o processo reencarnatório de Júlio. O ex-suicida sofreria o aflitivo desejo de permanecer na Terra; no entanto, suicida que foi, com duas tentativas de auto-aniquilamento, por duas vezes deveria experimentar a frustração para valorizar com mais segurança a bênção da vida terrestre. "Depois de estagiar por muitos anos nas regiões inferiores de nosso plano, confiando-se inutilmente à revolta e à inércia -- elucidou o Ministro --, já passou pelo afogamento e agora enfrentará a intoxicação. Tudo isso é lastimável, no entanto... quem aprenderá sem a cooperação do sofrimento?" Hilário aludiu ao martírio dos pais, e Clarêncio esclareceu: "Meus amigos, a justiça é inalienável. Não podemos iludi-la. Com o desequilíbrio emocional de Amaro e Zulmira, no pretérito, Júlio arrojou-se a escuro despenhadeiro de compromissos morais e, na atualidade, reabilitar-se-á com a cooperação deles. Ontem, o casal, por esquecê-lo, inclinou-o à queda, hoje, por amá-lo, garantir-lhe-á o soerguimento". Quando se avizinhava a madrugada, o grupo socorrista voltou à casa de Amaro. Odila trazia nos braços o filho irrequieto e gemente, enquanto Clarêncio, Clara, Blandina, Mariana, Hilário e André rodeavam a ambos, em silêncio. Ao penetrar a sala humilde, Júlio emudeceu. O Ministro explicou: "O doentinho encontra grande alívio em contacto com os fluidos domésticos. O reequilíbrio da alma no ambiente que lhe é familiar no mundo constitui base firme para o êxito da reencarnação". Em seguida, ele penetrou, sozinho, a câmara conjugal, para certificar-se quanto à conveniência de se confiar o pequenino à sua futura mãe. Passados alguns minutos, Clarêncio voltou à sala e convidou os demais para entrar. Enternecedor espetáculo desdobrou-se à vista de todos. Zulmira, em Espírito, estendeu-lhes braços fraternos. Estava bela, radiante de alegria... E, quando recebeu Júlio, conchegando-o ao peito, pareceu-lhes sublimada Madona, aureolada por maternidade vitoriosa. Odila chorava. O Ministro ergueu, então, os olhos para o Alto e orou, em voz comovedora. (Cap. XXVIII, págs. 172 e 173)

 

2. A reencarnação de Júlio - "Senhor, abençoa-nos!... De almas entrelaçadas na esperança em teu infinito amor e no júbilo que nasce da obediência aos teus desígnios, aqui nos achamos, acompanhando um amigo que volta à recapitulação!", disse Clarêncio em sua prece, pedindo forças para o amigo submeter-se resignado à cruz que lhe seria a salvação. "O' Pai, sustenta-nos -- prosseguiu o Ministro -- na grande estrada redentora em que o obstáculo e a dor devem ser nossos guias, fortalece-nos o bom ânimo e a serenidade e modela-nos o coração para que saibamos servir-te em qualquer circunstância!... Sobretudo, Senhor, rogamos-te auxilies a nossa irmã que investe sagradas aspirações femininas no apostolado maternal! Santifica-lhe os anseios, multiplica-lhe as energias para que ela se honre contigo na divina tarefa de criar!..." A palavra de Clarêncio, saturada de paternal amor, levara a todos à comoção, especialmente Zulmira, que, atraída pelo poder magnético da oração, avançou com o menino colado ao regaço até junto do Ministro, e ajoelhou-se. André lembrou-se da passagem evangélica da viúva de Naim com o filho morto aos pés do Cristo, e chorou. Tocado por aquele gesto espontâneo de confiança e fé, Clarêncio transfigurou-se. Jorro estelar descia da Altura, inflamando-lhe a fronte, e da destra que acariciava a irmã genuflexa projetavam-se raios de safirina luz... Em seguida, sustentando-a nos braços, ele a reergueu, conduzindo-a ao leito com a criança. Júlio dormia placidamente e, abraçado ao colo materno, parecia fundir-se nele. O fenômeno reencarnatório ali era demasiado simples. O corpo sutil do menino como que se justapunha aos delicados tecidos do perispírito maternal, adelgaçando-se gradativamente. Clara e as demais companheiras oscularam a futura mãe, que tentava recuperar o corpo denso, conduzindo consigo o pequeno confortado e desfalecente. Odila encarregou-se da assistência a Zulmira e Clarêncio prometeu seguir, de perto, os serviços naturais daquela gravidez incipiente. Ao sair, Clarêncio esclareceu que a reencarnação de Júlio fora simples, porque se tratava de uma encarnação com interesse tão somente para ele mesmo e para os familiares que o cercavam. Todavia, se a existência do filho de Amaro estivesse destinada a influenciar a comunidade, se ele fosse detentor de méritos indiscutíveis, com responsabilidades justas nos caminhos alheios, o problema seria diferente. "Forças de ordem superior seriam fatalmente mobilizadas para a interferência nos cromossomos, garantindo-se o embrião do veículo físico de maneira adequada à missão que lhe coubesse", ajuntou o Ministro. (Cap. XXVIII, págs. 174 a 176)

 

3. A questão da maternidade - Hilário perguntou ao Ministro o que ocorreria se o reencarnante fosse um homem de larga intelectualidade. "Merecer-nos-ia cautelosa atenção na estrutura cerebral, para que lhe não faltasse um instrumento à altura de seus deveres na materialização do pensamento", respondeu Clarêncio. Se fosse um médico, um grande cirurgião, por exemplo, receberia "assistência aprimorada na formação do sistema nervoso, assegurando-se-lhe pleno domínio das emoções". Em milhares de renascimentos, na Terra, o Instrutor informou que os princípios embriogênicos funcionam automaticamente, cada dia. "A lei de causa e efeito executa-se sem necessidade de fiscalização de nossa parte", elucidou Clarêncio, aditando: "Na reencarnação, basta o magnetismo dos pais, aliado ao forte desejo daquele que regressa ao campo das formas físicas. De retorno ao corpo físico, estamos invariavelmente animados de um propósito firme... seja o anseio de alijar a dor que nos atormenta, a aspiração de conquistas espirituais que nos facilitem o acesso à Vida Superior, o voto de recapitular serviços mal feitos ou o ideal de realizar grandes tarefas de amor entre aqueles a quem nos afeiçoamos no mundo". De modo geral, explicou o Ministro, a maioria das almas que reencarnam satisfazem à fome de recomeço. Quem não atendeu com exatidão ao trabalho que a vida lhe delegou, depressa se rende ao impositivo de repetição da experiência, e o ressurgimento na luta física aparece por bênção salvadora. Milhões de destinos se reestruturam dessa forma, qual se refaz uma grande floresta. A sementeira cresce, estimulada pelo magnetismo do solo; a existência corpórea germina de novo, incentivada pelo magnetismo da carne... O seio maternal é, desse modo, "um vaso anímico de elevado poder magnético ou um molde vivo destinado à fundição e refundição das formas, ao sopro criador da Bondade Divina, que, em toda a parte, nos oferece recursos ao desenvolvimento para a Sabedoria e para o Amor. "Esse vaso -- disse Clarêncio -- atrai a alma sequiosa de renascimento e que lhe é afim, reproduzindo-lhe o corpo denso, no tempo e no espaço, como a terra engole a semente para doar-lhe nova germinação, consoante os princípios que encerra". "Maternidade é sagrado serviço espiritual em que a alma se demora séculos, na maioria das vezes aperfeiçoando qualidades do sentimento." (Cap. XXVIII, págs. 176 e 177)





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