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Baseado em Publicação da FEB 5 страница




O importante semanário parisiense “Ilustration”, de 25 de junho de 1853, informava então que uma única pessoa não se achava nada satisfeita com tudo isso: a Academia, que ainda – acrescentava com certo ar de pouca esperança – está a pesquisar as causas ocultas desse fenômeno de “mesas girantes”.Livros que tratavam dessas mesas começaram a aparecer, atraindo leitores aos milhares, citando-se, entre os autores, Roubard, Gasparin, Mirville e outros.

Em 24 de dezembro de 1853, Ilustration” registrava a seguinte nota:“Depois que um eclesiástico, correspondente de “L. Unives”, descobriu Satã, em pessoa, numa mesa de três pés, as “mesas falantes”adquiriram uma fama sinistra que lhes valeu serem postas formalmente no Index por dois de nossos prelados, os Reverendos Bispos de Orleães e de Viviers”.

Mas as mesas continuaram...Veio o Santo Ofício e, em 4 de agosto de 1856, condenou os fenômenos em voga, dizendo serem conseqüência de hipnotismo e magnetismo (já que pouca gente acreditava em peripécias do diabo), e tachavam de hereges as pessoas por intermédio das quais eles eram produzidos.

 

Z.Wantuil e F.Thiessen

Da obra “Allan Kardec” – Vol.2 pg. 56

 

 

b) A Codificação Espírita

 

Allan Kardec

 

Na cidade de Lyon, na Rua Sala 76, nasceu no dia 3 de outubro de 1804, aquele que se celebrizaria sob o pseudônimo de Allan Kardec, de tradicional família francesa de magistrados e professores, filho de Jean Baptiste Antoine Rivail e de Jeanne Louise Duhamel.Batizado pelo padre Barthr, a 15 de junho de 1805, na igreja de Saint Denis de Croix-Rousse, recebeu o nome de Hippolyte Leon Denizard Rivail.

Em Lyon, fez os seus primeiros estudos, seguindo depois para Yverdun, na Suíça, a fim de estudar no Instituto do célebre professor Pestalozzi.O Instituto desse abalizado mestre era um dos mais famosos e respeitados em toda a Europa, reputado como escola modelo, por onde passaram sábios escritores do Velho Continente.Desde cedo Hippolyte Leon tornou-se um dos mais eminentes discípulos de Pestalozzi, um colaborador inteligente e dedicado, que exerceria, mais tarde, grande influência sobre o ensino na França.

Declara a Revista Espírita, de maio de 1869, que, dotado de notável inteligência e atraído por sua vocação, desde os 14 anos ele ensinava aos condiscípulos menos adiantados tudo o que aprendia.

Concluídos os seus estudos em Yverdun, regressou a Paris, onde se tornou conceituado Mestre, não só em letras, como em ciências, distinguindo-se como notável pedagogo e divulgador do Método Pestalozziano.Conhecia algumas línguas como o italiano, alemão, etc.Tornou-se membro de várias sociedades científicas.

Encontrando-se no mundo literário de Paris com a professora Amélie Gabrielle Boudet, culta, inteligente, autora de livros didáticos, o professor Rivail contrai com ela matrimônio, conquistando uma preciosa colaboradora para a sua futura atuação missionária.

Como pedagogo, no primeiro período da sua vida, Rivail publica numerosos livros didáticos.Apresenta, na mesma época, planos e métodos referentes à reforma do ensino francês.Entre as obras publicadas, destacam-se: Curso Teórico e Prático de Aritmética, Gramática Francesa Clássica, Catecismo Gramatical da Língua Francesa, além de programas de cursos ordinários de física, astronomia e fisiologia.

Ao término desta longa atividade e experiência pedagógica, o professor Hippolyte estava preparado para outra tarefa, a Codificação do Espiritismo.

Começa então a missão de Allan Kardec, quando, em 1854, ouviu falar pela primeira vez nas mesas girantes, através do amigo, senhor Fortier, um pesquisador emérito do magnetismo.A principio Kardec revelou-se cético, apesar de seus estudos sobre magnetismo, mas não intransigente, em face da sua posição de livre pensador, de homem austero, sincero e observador.Exigindo provas, mostrou-se inclinado à observação mais profunda dos ruidosos fatos amplamente divulgados pela imprensa francesa

Assistindo aos propalados fenômenos na casa da sonâmbula senhora Roger, depois na casa da madame Plainemaison e, finalmente, na casa da família Baudin, recebe muitas mensagens através da mediunidade das jovens Caroline e Julie.Conclui, afinal, que eram efetivamente manifestações inteligentes produzidas pelos Espíritos dos homens que deixaram a Terra.

Recebendo depois, dos senhores Carlotti, René Taillandier, Tiedman-Mantèse, Sardou, pai e filho, e Didier, cinqüenta cadernos de comunicações diversas, Kardec se dedica àquela ciclópica e desafiadora tarefa da Codificação Espírita, elaborando as obras básicas em função dos ensinamentos fornecidos pelos Espíritos, sendo a primeira delas – O Livro dos Espíritos – publicada em 18 de abril de 1857, e tida como marco inicial da codificação do Espiritismo.

Explicando a sua convicção, sustenta que a sua crença apóia-se em raciocínio e fatos.É do seu feitio examinar, antes de negar ou afirmar “a priori”, qualquer tema.

Foi, portanto, como racionalista estudioso, emancipado do misticismo, que ele se pôs a examinar os fatos relacionados com as “mesas girantes”: “Tendo adquirido, no estudo das ciências exatas, o hábito das coisas positivas, sondei, perscrutei esta nova ciência(o Espiritismo) nos seus mais íntimos refolhos; busquei explicar-me tudo, porque não costumo aceitar idéia alguma, sem lhe conhecer o como e o porquê”.

Fundou Kardec, em 1o. de abril de 1858, a primeira sociedade com o nome de “Société Parisienne dés Études Spirits”e no mesmo ano edita a Revista Espírita, primeiro órgão espírita na Europa.Na 1a. quinzena de janeiro de 1861, lança O Livro dos Médiuns e, depois, sucessivamente, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e A Gênese.

Recebe a primeira revelação da sua missão em 30 de abril de 1856, pela médium Japhet, missão essa confirmada em 12 de junho de 1856, pela médium Aline, e, finalmente, a 12 de abril de 1860, na casa do senhor Dehan, pelo médium Croset.

Kardec escreve que empregou nessa laboriosa tarefa toda solicitude e dedicação de que era capaz.

Na Revista Espírita de maio de 1869, lê-se: “Trabalhador infatigável, sempre o primeiro e o último a postos, Allan Kardec sucumbiu a 31 de março de 1869 (...)”.“Nele, como em todas as almas fortemente temperadas, a lâmina gastou a bainha (...)”.

Cumprida estava modelarmente a missão do expoente máximo da Terceira Revelação, abrindo caminho ao Espiritismo, a grande voz do Consolador prometido ao mundo pela misericórdia de Jesus Cristo.

No que tange ao método, Kardec adota o intuitivo-racionalista pestalozziano, como processo didático defendido pelo fundador do Instituto de Yverdun, considerando, todavia, o valor da análise experimental.Sob tais diretrizes cultiva o espírito natural da observação, apregoando o uso do raciocínio na descoberta da verdade.Desestimula, todavia, a atitude mecânica para que o aprendiz procure sempre a razão e a finalidade de tudo.Sustenta a necessidade de proceder do simples para o complexo, do particular para o geral.Recomenda a utilização de uma memória racional, fazendo uso complexo da razão, para reter as idéias, de modo a evitar o processo de repetição mecânica das palavras.Procura despertar no estudo, a curiosidade do observador, de modo a avivar a atenção e a percepção.

O lastro contido no ensino basilar é sempre intuitivo, que Kardec considera como o fundamento geral dos nossos conhecimentos e o meio mais adequado para desenvolver as forças do espírito humano, da maneira mais natural.Entendia Kardec que todo bom método devia partir do conhecimento dos fatos adquiridos pela observação, pela experiência e pela analogia, para daí se extraírem, por indução, os resultados a se chegar a enunciados gerais que possam servir de base ao raciocínio, dispondo-se esses materiais com ordem, sem lacuna, harmoniosamente.

Pelo eficiente e racional método de sua dialética, Kardec foi saudado por Camille Flammarion como “o bom senso encarnado”.

Em conclusão, a resplandecente missão do mestre lionês, exercida com tanto estoicismo e devoção, assegura-nos, desde agora, a convicção de sua retumbante vitória.

 

Biografia do Senhor Allan Kardec

 

É sob o golpe da dor profunda causada pela partida prematura do venerável fundador da Doutrina Espírita, que iniciamos uma tarefa, simples e fácil para as suas mãos sábias e experimentadas, mas cujo peso e gravidade nos acabrunham, se não contássemos com o concurso eficaz dos bons Espíritos e com a indulgência dos nossos leitores.

Quem, entre nós, poderia, sem ser taxado de presunçoso, gabar-se de possuir o espírito de método e de organização com que se iluminam todos os trabalhos do mestre?Só a sua poderosa inteligência poderia concentrar tantos materiais diversos, tritura-los, transforma-los, para a seguir os espalhar como um orvalho benfazejo sobre as almas desejosas de conhecer e de amar!

Incisivo, conciso, profundo, ele sabia agradar e fazer-se compreender, numa linguagem ao mesmo tempo simples e elevada, tão afastada do estilo familiar quanto das obscuridades da Metafísica.

Multiplicando-se incessantemente, até aqui ele havia atendido a tudo.Entretanto, o diário crescimento de suas relações e o incessante desenvolvimento do Espiritismo o fizeram sentir a necessidade de contar com alguns auxiliares inteligentes, e ele preparava, simultaneamente, a organização nova da Doutrina e de seus trabalhos, quando nos deixou para ir a um mundo melhor, colher o prêmio da missão cumprida e reunir os elementos para uma nova obra de devotamento e sacrifício.

Ele era só!... Nós nos chamaremos legião, e, por mais fracos e inexperientes que sejamos, temos a íntima convicção de que nos manteremos à altura da situação se, partindo dos princípios estabelecidos e de uma evidência incontestável, nos dedicarmos a executar, tanto quanto nos seja possível e conforme às necessidades do momento, os projetos futuros que o próprio Sr. Allan Kardec se propunha a realizar.

Enquanto seguirmos a sua via e todas as boas vontades se unirem num esforço comum, para o progresso e a regeneração intelectual e moral da Humanidade, o Espírito do grande filósofo estará conosco e nos ajudará com a sua poderosa influência.Possa elesuprir a nossa insuficiência e possamos tornar-nos dignos de seu concurso, consagrando-nos à obra com o mesmo devotamento e sinceridade, se não com tanta ciência e inteligência!

Em sua bandeira ele havia inscrito estas palavras: Trabalho, solidariedade, tolerância.Como ele, sejamos infatigáveis; conforme seus desejos, sejamos tolerantes e solidários e não temamos seguir o seu exemplo, pondo vinte vezes sobre a mesa os princípios ainda em discussão.Apelamos ao concurso e às luzes de todos.Tentaremos avançar com mais certeza do que a velocidade e nossos esforços não serão infrutíferos se, como estamos persuadidos, cada um tratar de cumprir o seu dever pondo de lado qualquer questão pessoal a fim de contribuir para o bem geral.

Não poderíamos entrar sob melhores auspícios na nova fase que se abre para o Espiritismo, do que dando a conhecer aos nossos leitores, em rápido esboço, o que foi toda a sua vida, o homem íntegro e honrado, o sábio inteligente e fecundo, cuja memória se transmitirá aos séculos futuros, cercada da auréola dos benfeitores da Humanidade.

Nascido em Lyon, a 3 de outubro de 1804, de uma antiga família que se distinguia na magistratura e na tribuna jurídica, o Sr. Allan Kardec (Leon-Hippolithe-Denizart Rivail) não seguiu esta carreira.Desde a primeira juventude sentia-se atraído para o estudo das Ciências e da Filosofia.

Educado na Escola de Pestalozzi, em Yverdun, Suíça, tornou-se um dos mais eminentes discípulos do célebre professor e um dos propagadores zelosos de seu sistema de educação, que exerceu uma grande influência sobre a reforma dos estudos na Alemanha e na França.

Dotado de uma inteligência notável e atraído para o ensino por seu caráter e suas aptidões especiais, desde a idade de quatorze anos ensinava o que sabia aos seus condiscípulos que tinham aprendido menos que ele.Nesta escola se desenvolveram as idéias que, mais tarde, deveriam coloca-lo na classe dos homens avançados e dos livre-pensadores.

Nascido na religião católica, mas educado em país protestante, os atos de intolerância que a propósito teve de sofrer, desde cedo o fizeram conceber a idéia de uma reforma religiosa, na qual trabalhou em silêncio durante longos anos, com o pensamento de chegar a uma unificação de crenças; mas lhe faltava o elemento indispensável à solução deste grande problema.

Mais tarde o Espiritismo lhe veio fornecer esse elemento e imprimir uma direção especial aos seus trabalhos.

Terminados os estudos, voltou para a França.Dominando a fundo a língua alemã, traduziu para a Alemanha diversas obras de educação e de moral e, o que é característico, as obras de Fénelon, que o haviam seduzido particularmente.

Era membro de várias sociedades científicas, entre outras, da Academia Real de Arras, que, em seu concurso de 1831, o laureou por uma memória notável sobre essa questão: “Qual o sistema de estudos mais em harmonia com as necessidades da época?”

De 1835 à 1840, em seu domicílio à Rua de Sèvres, fundou cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia comparada, Astronomia, etc., empreendimento digno de elogios em todos os tempos, mas sobretudo numa época em que um pequeníssimo número de inteligências se aventurava a entrar por esse caminho.

Constantemente preocupado em tornar atraentes e interessantes os sistemas de educação, inventou, ao mesmo tempo, um método engenhoso para ensinar a contar e um quadro mnemônico da História da França, tendo por objetivo fixar na memória as datas dos acontecimentos notáveis e das grandes descobertas que ilustraram cada reinado.

Entre as suas numerosas obras de educação, citaremos as seguintes: Plano proposto para o melhoramento da instrução pública(1828); Curso prático e teórico de Aritmética, segundo o método de Pestalozzi, para uso dos professores e mães de família(1829); Gramática Francesa Clássica(1831); Manual dos exames para o título de capacidade; Soluções raciocinadas das questões e problemas de Aritmética e de Geometria(1846); Catecismo gramatical da Língua Francesa(1848); Programa dos cursos de Química, Física, Astronomia, Fisiologia, que professava no Liceu Polimático; Ditados normais dos exames da Prefeitura e da Sorbonne, acompanhados de Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas(1849), obra muito estimada na época de seu aparecimento e da qual ainda recentemente ele tirava novas edições.

Antes que o Espiritismo viesse popularizar o pseudônimo Allan Kardec, tinha ele, como se vê, sabido ilustrar-se por trabalhos de natureza completamente diversa, mas tendo como objetivo esclarecer as massas e liga-las cada vez mais à família e ao país.

Em 1850, desde que se tratou das manifestações dos Espíritos, o Sr. Allan Kardec entregou-se a observações perseverantes sobre esses fenômenos e empenhou-se principalmente em lhes deduzir as conseqüências filosóficas.Entreviu desde logo o princípio de novas leis naturais; as que regem as relações entre o mundo visível e o mundo invisível; reconheceu na ação deste último, uma das forças da Natureza, cujo conhecimento deveria lançar luz sobre uma porção de problemas reputados insolúveis, e compreendeu o seu alcance do ponto de vista religioso.

Suas principais obras sobre esta matéria são: O Livro dos Espíritos, para a parte filosófica, e cuja primeira edição apareceu a 18 de abril de 1857; O Livro dos Médiuns, para a parte experimental e científica(Janeiro de 1861); O Evangelho Segundo o Espiritismo, para a parte moral(Abril de 1864); O Céu e o Inferno, ou a Justiça de Deus segundo o Espiritismo(Agosto de 1865); A Gênese, os Milagres e as Predições(Janeiro de 1868); a Revista Espírita, jornal de estudos psicológicos, coleção mensal começada a 1o. de abril de 1859, a primeira Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cujo fim exclusivo é o estudo de tudo o que possa contribuir para o progresso desta nova Ciência.A justo título o Sr. Allan Kardec se defende de haver algo escrito sob a influência de idéias preconcebidas os sistemáticas: homem de um caráter frio e calmo, observou os fatos e de suas observações deduziu leis que os regem; foi o primeiro a elaborar a sua teoria e a dispô-los num corpo metódico e regular.

Demonstrando que os fatos falsamente qualificados de sobrenaturais estão submetidos a leis, fá-los entrar na ordem dos fenômenos da Natureza e assim destrói o último refúgio do maravilhoso, um dos elementos da superstição.

Durante os primeiros anos em que se cogitava dos fenômenos espíritas, essas manifestações eram antes objeto de curiosidade do que assunto para sérias meditações; O Livro dos Espíritos colocou o assunto sob um aspecto completamente novo.Abandonaram-se então as mesas girantes, que apenas haviam sido um prelúdio, voltando-se o interesse para um corpo de doutrina que abarcava todas as questões ligadas à Humanidade.

Do aparecimento do Livro dos Espíritos data a verdadeira fundação do Espiritismo, que até então se constituía apenas de elementos esparsos, sem coordenação, e cujo alcance não havia sido compreendido suficientemente; também a partir desse momento a doutrina chamou a atenção dos homens sérios e tomou rápido desenvolvimento.Em poucos anos essas idéias encontraram numerosos aderentes em todas as camadas da sociedade e em todos os países.Este sucesso sem precedentes se deve sem dúvida às simpatias que essas idéias encontraram, mas é devido em grande parte à clareza, que é uma das características distintas dos escritos de Allan Kardec.

Abstendo-se das fórmulas abstratas da Metafísica, o autor soube fazer-se ler sem fadiga, condição essencial para a vulgarização de uma idéia.Sobre todos os pontos da controvérsia, sua argumentação de uma lógica cerrada, oferece pouca margem à refutação e predispõe à convicção.As provas materiais que o Espiritismo oferece da existência da alma e da vida futura tendem à destruição das idéias materialistas e panteístas.Um dos mais fecundos princípios desta doutrina, que decorre do precedente, é o da pluralidade das existências, já entrevisto por uma porção de filósofos antigos e modernos e, nestes últimos tempos, por Jean Reynaud, Charles Fourier, Eugène Sue e outros, mas permanecendo apenas em estado de hipótese e de sistema, ao passo que o Espiritismo demonstra a sua realidade e prova que é um dos atributos essenciais da Humanidade.Deste princípio decorre a solução de todas as anomalias aparentes da vida humana, de todas as desigualdades intelectuais, morais e sociais.Assim o homem sabe de onde vem, para onde vai, para o que está na Terra e porque sofre.

As idéias inatas se explicam pelos conhecimentos adquiridos em vidas anteriores; a marcha dos povos e da Humanidade, pela volta dos homens dos tempos passados, que revivem depois de haverem progredido; as simpatias e as antipatias pela natureza das relações anteriores; essas relações que ligam a grande família humana de todas as épocas, oferecem as próprias leis da natureza, e não mais uma teoria, como base dos grandes princípios de fraternidade, de igualdade, de liberdade e de solidariedade universal.

Em vez do princípio: “Fora da Igreja não há salvação”, que alimenta a divisão e a animosidade entre as diversas seitas, e que tem feito correr tanto sangue, o Espiritismo tem por máxima: “Fora da caridade não há salvação”, isto é, a igualdade entre os homens perante Deus, a tolerância, a liberdade de consciência e a mútua benevolência.

Em vez da fé cega, que aniquila a liberdade de pensar, diz ele: “Não há fé inabalável senão aquela que pode olhar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade.A fé necessita de uma base, e esta base é a inteligência perfeita daquilo que se deve crer; para crer não basta ver; é necessário sobretudo compreender.A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que hoje faz o maior número de incrédulos, porque ela quer impor-se e exige a abdicação de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio”. (O Evangelho Segundo o Espiritismo).

Trabalhador infatigável, sempre o primeiro e o último a postos, Allan Kardec sucumbiu a 31 de março de 1869, em meio aos preparativos de mudança de local, exigida pela extensão considerável de suas múltiplas ocupações.Numerosas obras em vias de conclusão, ou que aguardavam o tempo oportuno para aparecerem, virão um dia provar, ainda mais, a extensão e o poder de suas concepções.

Morreu como viveu: trabalhando.Há longos anos sofria de uma moléstia do coração, que só podia ser combatida pelo repouso intelectual e alguma atividade material.Mas, inteiramente dedicado ao seu trabalho, recusava-se a tudo quanto pudesse tomar-lhe o tempo, em prejuízo de suas ocupações prediletas.Nele, como em todas as almas fortemente temperadas, a lâmina gastou a bainha.

O corpo tornava-se pesado e se recusava a servi-lo, mas o espírito, mais vivo, mais enérgico, mais fecundo, alargava cada vez mais o seu círculo de atividades.

Numa luta desigual, a matéria não podia resistir eternamente. Um dia foi vencida: o aneurisma rompeu-se e Allan Kardec caiu fulminado.Um homem deixava a Terra, mas um grande nome tomava lugar entre as ilustrações deste século, um grande Espírito ia retemperar-se no infinito, onde todos os que ele havia consolado e esclarecido, impacientemente esperavam a sua chegada.

A morte, dizia ele recentemente, a morte fere em golpes redobrados nas camadas ilustres!... A quem virá ela agora libertar?

Ele foi, após tantos outros, retemperar-se no Espaço, buscar novos elementos para renovar o seu organismo gasto por uma vida de labores incessantes.Partiu com aqueles que serão os faróis da nova geração, para voltar em breve com eles a fim de continuar e concluir a obra deixada entre mãos devotadas.

O homem não existe mais; a alma, porém, ficará entre nós.É um protetor seguro, uma luz a mais, um trabalhador infatigável que aumentou as Falanges do Espaço.Como na Terra, sem ferir a ninguém, a cada um saberá fazer ouvir os conselhos convenientes; dosará o zelo prematuro dos ardentes, ajudará os sinceros e os desinteressados e estimulará os mornos.Hoje ele vê e sabe tudo quanto previa ainda há pouco!Não mais está sujeito às incertezas, nem aos desfalecimentos.E nos fará partilhar da sua convicção, obrigando-nos a tocar a verdade com o dedo, indicando-nos o caminho, naquela linguagem clara, precisa, que o fez um padrão nos anais literários.

O homem não existe mais – repetimos.Mas Allan Kardec é imortal e sua lembrança, seus trabalhos, seu Espírito estarão sempre com os que sustentaram, alto e firme, a bandeira que ele sempre soube fazer respeitar.

Uma individualidade poderosa construiu a obra; era o guia e a luz de todos.Na Terra, a obra tomará lugar do indivíduo.Não nos uniremos em torno de Allan Kardec; estaremos unidos em torno do Espiritismo, tal qual ele o construiu, e, por seus conselhos, sob a sua influência, avançaremos a passos certos para as fases prometidas à Humanidade regenerada.

Fonte: Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos

Volume 5 - Ano de 1869

 

Caráter da Revelação Espírita

 

Definamos primeiramente o sentido da palavra revelação.Revelar, do latim revelare, cuja raiz, velum, véu, significa literalmente sair de sob o véu e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida.Em sua acepção vulgar, mais genérica, essa palavra se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer idéia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos.

Deste ponto de vista, todas as ciências que nos fazem conhecer os mistérios da Natureza são revelações e pode dizer-se que há para a humanidade uma revelação incessante.A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia revelou a formação da Terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo, etc.; Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores.

A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade.Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; si é falso, já não é um fato e, por conseqüência, não existe revelação.Toda revelação desmentida por fatos, deixa de o ser, se for atribuída a Deus.Não podendo Deus mentir, nem se enganar, ela não pode emanar Dele e deve ser considerada produto de uma concepção humana.

Por sua natureza, a revelação Espírita tem duplo caráter, participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica.Participa da primeira porque foi providencial o seu aparecimento e não o resultado da iniciativa, nem de um desígnio premeditado do homem; porque os pontos fundamentais da doutrina provêm do ensino que deram os Espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas que eles ignoravam, que não podiam aprender por si mesmos e que lhes importa conhecer, hoje que estão aptos a compreende-las.





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